O corpo revela quem somos
Entrevista com Sérgio Veleda, terapeuta psicocorporal, que coordena, ao lado de Evania Reichert, a formação Corpo e Identidade - educação somática e desenvolvimento, do Vale do Ser.
Esta é uma formação aberta, tanto para quem busca uma formação psicocorporal quanto para os que querem passar por um processo pessoal de profundo autoconhecimento.
Qual é a relação entre corpo e comportamento?
O corpo possui uma linguagem sem palavras. Como toda a atitude tem ancoragem muscular, o gesto reproduz o que sentimos, pensamos e fazemos. O nosso corpo se comunica constantemente, mas de outra forma, sem palavras. Há em cada um de nós muito mais do que falamos. Essa linguagem inconsciente do corpo pode ser acessada e compreendida ao se trabalhar com a respiração, a musculatura, o movimento e a expressão do que sentimos.
Como se exprime a linguagem corporal?
As distintas partes do nosso corpo possuem funcionalidade na expressão das emoções. Um exemplo disso são os nossos intestinos. Eles não servem apenas para a digestão de alimentos, mas digerem também nossas sensações, nossos sentimentos e as impressões psíquicas que engolimos e empurramos para dentro das vísceras, sempre que nos contemos por medo. O psicoperistaltismo, estudado por Gerda Boysen, é um dos aportes que revela esta relação entre funcionamento biológico e psicológico. E assim poderíamos seguir para outras partes e funções psicorporais.
Qual é a definição de “couraça muscular” segundo Wilhelm Reich?
A vida no organismo vivo é movimento, pulsação. As sensações e os sentimentos são os fluxos desse organismo. Somos impedidos de sentir e expressar muitas coisas, devido à cultura e ao tipo de educação que recebemos, às vezes patriarcal e autoritária, ou abandonadora das necessidades básicas das crianças. Ao bloquear sensações e sentimentos, que são a linguagem expressiva da vida, estamos congelando o movimento vital em blocos de tensão física. Quando observamos alguém, podemos ver que sua atitude somática é mais ou menos o congelamento desse movimento, sob a forma de uma capa imobilizadora.
Como o corpo revela a história pessoal?
Os bloqueios corporais se dão ao largo do desenvolvimento psicoafetivo e psicomotor, imprimindo na musculatura os registros biográficos dolorosos e dando assim forma e funcionamento ao corpo e ao comportamento. Esses bloqueios tornam-se sensações congeladas, sob a forma de tensão crônica. Um processo que já começa na gestação, passa pelo nascimento e pela infância, seguindo ao longo da vida. A pessoa torna-se condicionada a sentir de determinada forma, a repetir comportamentos e situações que reforçam as matrizes de sua história psicocorporal, até que possa descontruir essa crenças e suas atitudes negativas ancoradas no corpo.
O que é a Psicomorfologia?
A Psicomorfologia é um método de trabalho psicocorporal reichiano e pós-reichiano, criado no Vale do Ser, que usa exercícios e a intervenção corporal do terapeuta, liberando bloqueios corporais, e promovendo a autorregulação da pessoa que passa pelo processo. É um sistema de trabalho que não se foca tanto na catarse bioenergética, e sim em uma via contemplativa do corpo, visando que a pessoa possa entregar-se naturalmente. Entre os recursos que usamos estão: intervenção corporal reichiana, respirações, exercícios de vegetoterapia reichiana e os diferentes movimentos da pulsação da medusa (jellifish). Esse trabalho psicocorporal está sempre associado ao estudo sobre fases do desenvolvimento, formação psicocorporal do caráter e segmentos de tensão.
Situe as abordagens corporais em nossos dias?
Wilhelm Reich, aluno dissidente de Sigmund Freud, é conhecido como o pai das psicoterapias corporais. Entre muitos de seus alunos estão Alexander Lowen e John Pierrakos, que deram origem à Análise Bioenergética e ao Core. Com o passar dos anos, as abordagens psicocorporais evoluíram, surgindo métodos menos catárticos e mais educativos. Nesta linha, podemos destacar a vegetoterapia de Frederico Navarro, o trabalho de Edsworth.Baker, a Biossíntese de David Boadela. Há ainda os frutos da herança deixada por Reich aos noruegueses, que nutriu Gerda Boysen, Lisbeth Marcher e sua Bodynamic, dando nascimento a uma visão avançada da abordagem psicocorporal reichiana e pós-reichiana.
Na Escola Vale do Ser desenvolvemos um trabalho profundo sobre esta temática, que é direcionada tanto para formação de terapeutas, quanto para pessoas interessadas no caminho do desenvolvimento pessoal.
Interessados podem escrever para info.cursos@valedoser.com.br
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